MANIA DE CRITICAR TUDO.
Não era uma arena montada para o UFC,
porém, o clima de animosidade como todos que tentavam conviver com aquela
pessoa era terrível. Os golpes e pontapés vinham em forma de um azedume jamais
visto, então relacionar-se com aquela pessoa era um verdadeiro combate, que
desencorajava até mesmo um legítimo samurai. A forma de agredir era através de
uma incessante crítica de tudo, assim imerso numa modalidade de queixa total ia
levando a vida de forma sofrida, talvez amenizada pelo cargo de chefia numa
loja mediana.
A grande questão é que a receita
para o sujeito ter olhos apenas para o que falta, ou seja, enxergar apenas o
lado ruim das coisas e acostumar-se a ser o juiz de todos e tudo é iniciada na
infância. Se você quer construir uma pessoa com facilidade em condenar e ficar
o tempo todo criticando e apontando defeitos é, provavelmente, por conta da
criança ter sido criada num ambiente de censura total.
O crítico de hoje tem
grande chance de ter sido a criança reprovada e julgada intensamente no
passado, numa família severa e por pais e cuidadores que apenas tinham olhos
para o que faltava. Nessa modalidade de criação o elogio nunca pode vir
sozinho, quando elogiado é necessário o pai dizer o seguinte: - Boa nota filho,
mas podia ter sido melhor!
O problema não é a pessoa corrigir, educar e colocar
limite, mas não conseguir criar um trégua para realçar o que pessoa fez de
certo, sem a necessidade de ter que dividir com algum detalhe. Algumas pessoas
não conseguem elogiar, sem fazer alguma ressalva.
Daí então, uma das possíveis
saídas daquela criança que sofreu bombardeio de críticas é também ter aprendido
que condenar é uma estratégia para não reviver a semente do fracasso pessoal
que foi plantado na infância. Ao deslocar para o exterior o modo severo de ver
os fatos, enxerga apenas o que falta e ainda tem coragem de dizer que é apenas
uma crítica construtiva.
O adulto enxerga no outro o que
ele acredita ter sido na infância- um fracasso, ou seja, o rigor de hoje é apenas um bálsamo,
de última hora, para as lembranças soterradas no inconsciente. Então, a consciência
de ser pai na sua plenitude, em tese, implica em entender que seu lar pode ser a melhor
escola do mundo ou, claro, o reformatório mais cruel.
Marcos Bersam
Psicólogo
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