quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Cadê a garrafinha de 600ml?


Parece que foi ontem; quando me aventurei a escrever artigos de psicologia tinha uma ideia de que deveria escrever temas profundos; talvez como uma defesa rudimentar da insegurança própria de uma nova fase da vida. Hoje vejo que as amenidades; também tem o seu espaço no cotidiano urbano. E é contando com a complacência de meus amigos internautas e com o caráter fugaz do tema que espero que o senso crítico de vocês esteja combalido pela própria natureza pueril do assunto e com isso me safar minimamente dos olhares dos leitores mais sóbrios e sérios. Confesso a vocês que me senti como marido traído; estava ali como de costume a procurar a minha tubaína; nos dias atuais fica a garrafinha de 600 ml que era adereço garantido em qualquer mesa de restaurante. De maneira abrupta e sem nenhuma polidez fui informado pelo rapaz que parecia ser o gerente do estabelecimento que o meu pedido não poderia ser atendido. Ele chamou minha atenção por não estar consciente de que não havia mais tal opção de garrafa de refrigerante. Ele me alertou de modo assertivo que agora só havia o de 500 ml. Tudo bem que não tenho visto tanta TV e tenho andado meio apressado; mas comecei a me questionar até que ponto a minha alienação não estava de mãos dadas com uma senilidade precoce. Será que tinha me esquecido de tal informação; foi quando minha dúvida foi silenciada de maneira severa pelo resto de lucidez daquele dia. Realmente não sabia e nem fora informado que tal mudança iria acontecer; liguei para um amigo meu que se orgulha de ser bem informado e antenado. Pedi a ele para desencargo de consciência de que minha intuição estava certa. Naquele dia parece que meu hipotálamo ficará adormecido temporariamente por tal repreensão do dono do estabelecimento; minha fome tinha ido embora antes de terminar o almoço. Fui para casa; e fiquei a pensar naquela questão; o que de fato aconteceu com a garrafinha de 600 ml; parecia que fora feita exatamente para um casal; sempre acreditei que o responsável por tal embalagem fez a mesma para alguém que não está só. Ou para alguém que espera por alguém; sempre achei que pedir uma garrafinha de 600 ml era uma forma de dizer- eu tenho alguém. E agora! Tinha a certeza que 500ml; parecia me lembrar aquelas quantidades de xarope que era obrigado a tomar na minha infância. Não me lembro de nenhum comunicado oficial; nenhum plebiscito; nem sequer uma nota num jornal; daquelas tipo obituário; na qual consta o dia de nascimento e falecimento; nem mesmo uma missa de 7 dia pela morte da garrafinha de 600 ml. Me senti invadido por uma sensação de orfandade. Como pude não me despedir da garrafinha de 600 ml; como poderia contar para meus netos que um dia existiu uma embalagem que era ideal; nem mesmo uma foto para deixar de papel de parede no meu computador. A sensação foi de culpa e remorso; a finitude da garrafinha de 600 ml havia mexido com meus medos mais remotos; percebi que estava envelhecendo. Comecei a pensar que a culpa era minha quem sabe podia ter feito algo para evitar o confisco dessa embalagem. Mesmo que não conseguisse impedir a era da garrafinha de 600ml podia ter tempo e amealhar algumas e guardar e daqui a um tempo quem sabe vender por um bom dinheiro para algum colecionador e amante dessas embalagens. Ou talvez para mostrar para meus netos que houve uma época que as coisas eram diferentes. E quem sabe não poderia colocar lá alguns lps dos rock dos anos 80; e talvez coubesse até aquele atari; e porque não deixar lá a garrafinha de 600ml.
Deixando de lado esse meu saudosismo; a verdade é que todos já sentiram falta da garrafinha de 600ml; só que isso não pode ser falado; vivemos numa época que devemos nos portar com se fossemos adultos; e esses não falam de amenidades só conversam de coisas sérias; tal como economia; política; gastronomia; relacionamentos. Acredito que as pessoas sentem uma vontade enorme de falarem das coisas invisíveis; coisas pequenas que se agigantam no nosso íntimo. Só que para parecermos adultos devemos seguir a cartilha de pessoas maduras e não infantis; teimamos em fingirmos que as amenidades não são mais importantes. E nesse esforço hercúleo adoecemos e nos neurotizamos. Nesse afã de encontrar respostas sobre o porque do desaparecimento da garrafinha de 600ml; continuei minha teoria conspiratória seria 600 um número que trouxesse mal agouro. A verdade meus amigos que devemos ficar atentos as coisas que estão indo embora; na verdade a nossa percepção deve estar atenta aos detalhes. A verdade é que a morte nos visita de tempos em tempos; ela testa nossa capacidade de percepção; hoje você não nota que a sua esposa esta usando um brinco; amanha você não percebe que ela trocou o batom; amanha a solidão e a tristeza em seu rosto não é notada; e quando você menos espera o relacionamento afetivo já se despediu de você sem muita delonga; o entusiasmo pelo trabalho vai sendo asfixiado pelo tédio.
É assim mesmo quando menos esperamos a vida vai nos confiscando amenidades; detalhes; o vigor de outrora vai dando lugar a um ritmo menos acelerado; a vitalidade que vai se esvaindo; Então a vida dando sinais que nada fica como está; a garrafinha não está mais aí; você também não é o mesmo de ontem; nesse jogo de perdas e ganhos é que se processa a vida. Enquanto não volta a garrafinha de 600ml; observe se a sua vida não está faltando algo. Quem sabe não lhe confiscaram 100ml de desejos; entusiasmo; motivação ou coragem e esse pouco pode fazer toda a diferença. Então exija tudo da embalagem da vida que você tem direito; não aceite que por razão alguma os detalhes sejam confiscados.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Fui Traido! E agora?


Era garoto e adorava aquele movimento todo; pessoas e garotos aglutinados de porretes na mão; malhando o Judas. Lembro com todos o detalhes possíveis o boneco ali confeccionado pela comunidade; não entendia muito bem o motivo; só sabia como criança que descer paulada no Judas era necessário; e porque não até gostoso afinal toda criança tem requintes mínimos de sadismo.E os adultos afirmavam que final o traidor merecia; a cena era tão real para mim que jurava que o mesmo parecia até gemer de dor. Era como se aquele momento catártico afugentasse meus medos da infância; batia no Judas mas quem apanhava eram os monstros e assombrações que todo menino de 07 anos carrega consigo; afinal o complexo Édipo foi deixado logo ali atrás; e o superego ensaiava os primeiros passos. Shakespeare também imortalizou a traição com Otelo; Desdêmona; afinal seja no dramaturgo britânico ou na passagem bíblica de Jó; quando o mesmo foi ofertado a satanás para esse fazer um verdadeiro furdúncio na vida do pobre coitado e o impressionante com anuência de DEUS. Seja na bíblia; na mitologia; na segurança dos laços familiares a traição ronda as relações mais sólidas e onde nunca se imagina é que acontece. Desde que o mundo é mundo acontece a traição. A traição esta diretamente ligada à capacidade ou necessidade que temos de confiar e acreditar em algo ou alguém; somos eminentemente bichos iludidos. Com certeza você já pagou para ir ao circo e lá também você consentiu que o mágico o enganasse com o seu truque; quando você assiste um bom filme os personagens mexem com suas emoções e não demora muito você tem ódios ou paixões pelos personagens. Ou seja, somos apaixonadamente fascinados dos verbos enganar; trapacear; iludir e trair. Na verdade algum de vocês um dia se sentiu traído; e aí o que fazer? Sinceramente o que não fazer é mais fácil de tentarmos descrever; quando somos traídos sentimos um impulso inato e irrefreável de sair contando para o primeiro que aparece. E é aí quem devemos tomar cuidado; o verbo trair anda de mãos dadas com o verbo arrepender. Uma pessoa traída por agir por impulso sente uma necessidade de externar sua mágoa nem sempre para a pessoa mais indicada. Que falta faz um psicólogo nessa hora ou um amigo sensato e discreto. Na verdade o traído não quer conselhos ele quer ser escutado; e isso hoje é difícil. Quando somos traídos de modo geral incorporamos o papel de vitimas; somos os primeiros a afirmar que não merecíamos. A verdade é muito mais complexa; quando somos traídos experimentamos muitas vezes o lugar que um dia colocamos alguém; só que quando é com a gente é muito; mas muito mais difícil. Traídos e traidores são elementos de uma mesma dinâmica. Está lá em qualquer escrito de Freud; o adulto torna-se adulto na medida em que ele se decepciona; não era assim quando pequenos achávamos nossos pais os melhores do mundo; modelos e exemplos de virtudes. Não demorou muito todos um dia fantasiaram que ser filho do pai do amigo era melhor; traímos um dia até mesmo a lealdade filial que deveria ser indestrutível. Quem nunca sonhou em ter um pai mais rico; mais endinheirado; com mais posses; inteligente uma mulher mais sensual ou um homem mais carinhoso. Quando a traição acontece de fato; a sombra de nossa persona bate a porta; mostra-nos o eu que até então desconhecíamos. A verdade é que o traído tende a acreditar e justificar que não foi tão grave assim; na verdade a traição é a visita inesperada da verdade. Outro dia fiz o seguinte comentário com um cliente virtual de psicologia que estava passando por um momento de angústia diante de uma dor muito intensa; E isso resume bem o que acredito ser a traição. Esse texto foi uma metáfora criada por mim para responder a uma cliente virtual do meu site de psicologia. A resposta foi essa : “ Imagina que a traição é prima muito próxima de um sentimento que vou chamar de decepção; quando a gente menos espera; sem convidarmos chega a nossa casa alguém com nome de verdade que traz um embrulho; mas o presente que está lá dentro é a decepção outros chamam de desencanto; outros desilusão. Quando a verdade chega muitas vezes queremos mandá-la embora e para isso chamamos um amigo que mora lá no nosso íntimo; esse amigo é a esperança. A esperança por ser nossa amiga fica do nosso lado e pede para não darmos mais ouvidos a verdade. Olha todo amigo quer o nosso bem; a esperança age com o coração só que a esperança às vezes nos faz errar. É verdade também que a esperança funciona como bálsamo para nossas feridas. A verdade é uma visita indesejada; mas muitas vezes temos que ouvir o que a verdade quer nos contar. É necessário chorar; desencantar; entristecer. A esperança é oportuna; mas no momento certo. É muito comum fingirmos que nada aconteceu e que a vida segue; a verdade é uma visita desagradável; mas é ela que nos faz crescer; ela também nos traz outro presente que é a maturidade. A esperança apesar de dizer que é nossa amiga faz com que continuemos iludidos e tropeçarmos logo adiante. Vejo que você é uma pessoa vocacionada para perdoar e entender; aproveite esse momento para crescer e amadurecer; use a esperança como sua aliada; não como mecanismo de defesa da angústia. Use a verdade também para conhecer não só o outro; mas você também”.
Um abraço
MARCOS BERSAM

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