Feitiço das palavras.
Fala alinhada com o bom
português, assim aquela jovem mulher discursava em causa própria. De repente
surgia novos argumentos sensatos que justificavam o seu discurso, naquele
instante estava enfeitiçado com a eloquência dos argumentos dela. Ou seja, não havia
espaço para negociar e concordar com tamanhas evidências apresentadas na
ocasião de suas queixas. De repente,
recobrei minha lucidez mediana e rebelei com o estado hipnótico, afinal não podia
apenas menear a cabeça concordando com seu
discurso. A temática de sua fala
propunha atribuir a seu marido os motivos de estar ali, naquele consultório,
sem assumir sua parcela de responsabilidade daquela relação que ,segundo ela, avinhava-se do fim do casamento. De fato, o capricho na concordância verbal noticiava a
forma esmerada de comunicar daquela mulher, porém, recobrei à tempo a minha função de terapeuta..
A queixa tinha sobrenome e
endereço certo, aliás ela queria mais do que um interlocutor, ou seja,
precisava de um consentimento de sua inocência. De fato, era inegável a
sensatez com a lógica, de resto, o senso de justeza dos seus argumentos emolduravam seus argumentos. Assim sendo, a inteligência daquela mulher, com uma astucia felina incrementada com um sorriso farto, aliás tornava-se um pretexto para seduzir o que estivesse nas imediações.
A grande questão é que ela queria me convencer que o marido
deveria mudar, por exemplo, ela sempre acreditou que ao casar-se com fulano
teria a chance de mudá-lo. A questão é que ela nunca aceitou
o jeito bronco e chucro do namorado. O altar foi uma carta precatória afetiva, ou seja, ela acostumada a ter controle de tudo, também imaginou que teria do futuro marido. No entanto, a convivência e o desgaste
da relação fizeram ela ficar insatisfeita com a impotência de mudá-lo.
A fala sedutora dela era tão somente
uma tentativa desesperada de controlar , no mínimo, a forma de ver do terapeuta.
Ao ver que ela não mudaria o marido, em tese, precisava controlar a percepção daquele que a
escutava. A decepção de não ter conseguido me convencer e controlar minha forma
de ver e pensar, claro, coincidiu com a frase: Ah! Vou parar um pouco
com a terapia. Finalmente, ela queria
despedir da terapia com mais um argumento sensato, porém, desonesto; ou seja, a falta de tempo.
Marcos Bersam
Psicólogo
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instagram: psicologomarcosbersam
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