terça-feira, 30 de agosto de 2016

NATUREZA FEMININA

OCEANO FEMININO.

Da mesma forma que um rio caudaloso começa seu percurso de forma modesta ao pé da serra, de maneira singela e mansa até sonhar com o ingresso no oceano, aquela mulher também sonhava desde a sua puberdade encontrar o grande amor de sua vida, por vezes, idealizada na figura do príncipe encantado.

O sonho de ser amada na sua plenitude por alguém fez de algum modo aquela mulher mapear o trajeto do rio até o oceano. Então, encontrou forças na esperança, fortaleceu-se nos sonhos, investiu no amanhã, claro, para poder sonhar com a realização de desaguar no oceano. A verdade é que o rio não contava com as agressões externas, assim, erosões emocionais, desmatamento da dignidade afetiva ofenderam o curso natural das águas. O leito do rio foi estreitado quando o amor esperado não aconteceu na prazo sonhado, logo precisou de substituir, de última hora, suas pretensões. Atualmente, aquela mulher não sonha mais com o amor incondicional do parceiro, apenas contenta-se com a possibilidade de ser ouvida.

O oceano necessita de liberdade e coragem para existir, acostumada com o leito raso e longe das profundezas de águas oceânicas, ela vai ficando resignada com os igarapés convenientes no momento. Desacreditada de que pode ser feliz, distante da transformação ela precisa, no mínimo, ser ouvida para não ser testemunha da estiagem do rio.

Ser ouvida nesse momento é a única forma de garantir a sobrevivência do rio, enquanto o amor não acontece, de fato, e o oceano não aproxima-se. Encabulado e tímido aquele rio adiava o ingresso no oceano, o medo o paralisava nos contornos e declives mais acentuados; sem perceber a flexibilidade e força das águas ficava receoso de contornar pedras e rochas no caminho. O oceano ansiava também pelo encontro agendado, porém, o rio tinha dificuldade de dar adeus a superficialidade e segurança do seu leito. O rio estava prestes a aceitar sua vocação inicial, quando numa apoteose oceânica o rio passaria a pensar e agir de acordo com a grandezas dos mares.

Marcos Bersam
Psicólogo clínico


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