sábado, 26 de fevereiro de 2011

PENSAMENTO DO DIA

"O que eu ouço, eu esqueço. O que eu vejo, eu lembro. O que eu faço, eu entendo."

Confúcio

FILHOCENTRISMO


Essa é a nova tendência entre os pais dos tempos atuais; essa alcunha é para designar pais que tentam transformar o filho num verdadeiro faraó; uma espécie de Rei; e nessa nova forma de educar os pais se transformam em serviçais de luxo; empregados de plantão. Tal como súditos procurando o tempo todo atenderem; adivinhar o desejo do filho. É característica do filhocentrismo; os desejos e vontades dos pais serem relegados a um segundo plano; é quase uma blasfêmia; uma espécie de heresia pensar em satisfazer algo que não seja em benefício do próprio filho. O leitor deve estar pensando; mas ter filhos não é abrir mão da própria vida; não é padecer no paraíso? Claro que não; o maior engano de nosso tempo; é que para o pai amar seu filho esse tem que abdicar de sua própria vida. Na lógica destes pais a ausência de sofrimento; a satisfação de todos as vontades; caprichos; complacência com os deveres; relaxamento das responsabilidades e obrigações forma a fórmula perfeita para adultos felizes. O filho deve ser ensinado que o amor é inesgotável; não recebemos uma cota de amor que vem num frasco sendo prudente dosar para não acabar. A capacidade de amar de alguém está diretamente ligada à realização pessoal. A usina em nós que produz tal sentimento é alimentada por nós mesmos quando não abrimos mão de nossos sonhos; desejos e vontades. Os pais impacientes; revoltados e amargurados são aqueles que esqueceram de si mesmos; vivem imersos em culpas e sentimentos conflituosos experimentando até mesmo certo ódio; pois a inércia de suas vidas os deixou endurecidos e não sabem dar outra coisa que não o conforto material. Os pais devem ensinar aos filhos que devemos gostar de nós mesmos; logo para podermos dizer não quando somos apresentados a situações de dor; sofrimento e angústia. Os adeptos dos filhocentrismo; pensam numa lógica hedonista; bom é ter prazer; logo sempre se deve buscar o prazer. Esses não permitem dizer não para o filho; pois a palavra não para esse pai; frustra; limita; adia e isso vai de encontro à lógica hedonista do prazer o tempo todo. Esses pais na verdade condicionam o investimento de hoje esperando uma recompensa futura. A gratidão compensatória é a moeda que muitos pais esperam receber só que esse pagamento mesmo sendo cobrado com todos os dividendos de multa e juros nunca é pagável; a vida perdida e os sonhos sabotados são os ingredientes necessários para a instalação de uma neurose. Os defensores do filhocentrismo não permitem que o filho passe por dificuldades próprias da fase de crescimento emocional; não deixa o filho cair de bicicleta; não deixa o filho resolver um pequeno desentendimento na escola. Esse pai abre picadas na mata; vive e sente os obstáculos pelos filhos. Os pais vão pavimentando o caminho; tirando e removendo percalços; diminuindo desafios; promovendo facilidades que impedem a sensação de conquista seja saboreada pelos méritos próprios. Alguns clientes adultos dizem que momentos que deveriam ser significativos em suas vidas foram totalmente sem graça; não tiveram emoção; tal como a formatura tão aguardada. Esses pais querem construir adultos evitando que as crianças sejam apresentadas a velórios; sepultamentos; hospitais e doenças; as crianças de hoje tem uma rotina de um mundo de faz de conta; com passeios em shopping Center; brinquedos eletrônicos; comidas saborosas. Um dos argumentos usados pelos defensores do filhocentrismo; é a do trauma. Não posso levá-lo ao velório; logo ele será traumatizado. Os filhos são tratados por esses pais como cristais. O filhocentrismo gera um adulto inseguro com serias dificuldades de se relacionar; depende sempre de alguém que lhe diga sempre o que e como fazer. Quando cresce acredita que o mundo será de pais sempre prontos a remover os obstáculos inerentes à condição humana; a capacidade reação; criatividade; e o ímpeto de superar está em frangalhos. E muito comum mãe falar para mim que fizeram de tudo pelos filhos e não sabem aonde erraram; talvez na pergunta esteja à resposta. Quando você não permite que se aprenda a fazer; quando fazemos pelo outro estamos dizendo nas subliminarmente que o outro não é capaz. O outro é privado de aprender com o erro; a pedagogia do deixa que eu faço pra você é a maneira mais eficaz para tornar o filho infatilizado e regredido. De modo geral os pais que tratam o filho dessa maneira temem que o filho cresça; o cordão umbilical psicológico teima em persistir; os pais aprisionam o filho com cuidados excessivos; logo o filho crescer é um fator ansiógeno para os pais. O filhocentrismo pode gerar com mais facilidade adultos narcísicos; egocêntricos que estão voltados apenas para seus interesses; desconhecem a empatia pelo outro e vivem como se fossem crianças adormecidas e sonhadoras comportando-se como se estivessem num grande parque de diversão onde o que importa é apenas o prazer a todo custo.

DR. MARCOS BERSAM
VISITE O SITE WWW.MARCOSBERSAM.COM.BR

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

E PRECISO AMAR AS PESSOAS COMO SE NÃO HOUVESSE AMANHÃ.




olá amigos internautas; como a última entrevista minha falo de paternidade; liberdade nos dias atuais. Então me ocorreu compartilhar essa poesia em forma de música que continua sendo muito oportuna . A genialidade de Renato Russo ao fazer essa canção nos possibilita viajar no tempo. Que marcou muito minha vida. E acredito não ter sido tão diferente com vocês.

Dr.Marcos Bersam


PENSAMENTO DO DIA

"Não posso continuar sendo humano se faço desaparecer em mim a esperança"

Educador Paulo Freire

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Liberdade e Responsabilidade dos Filhos

Olá, amigos internautas!

Hoje falaremos de algo bem recorrente do dia-a-dia de algumas famílias, qual seja, o relacionamento entre pais e filhos. Em entrevista concedida à TV Panorama, filial da Rede Globo em Juiz de Fora-MG, destaquei a importância da concessão da liberdade aos filhos, mas ressaltando  a questão  da responsabilidade. Confiram à seguir.




PENSAMENTO DO DIA

"Experiência não é o que acontece com um homem; é o que um homem faz com o que lhe acontece."
Aldous Huxley

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O DISTÚRBIO DA CLEPTOMANIA

Olá, amigos internautas!

Dando continuidade à minha série de vídeos que estão sendo upados e disponibilizados no blog, hoje falaremos de um sério distúrbio, o da Cleptomania.
Confiram minha entrevista, pois será muito elucidativa, inclusive distinguindo distúrbios e conceitos, como a diferenciação entre um ladrão comum e um cleptomaníaco.



Cortar o tempo



"Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.

Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.


Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.

Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente"


Carlos Drummond de Andrade

PENSAMENTO DO DIA

"Se você sente tédio quando está sozinho é porque está em péssima companhia".
Jean Paul Sartre

domingo, 20 de fevereiro de 2011

ENFIM ACABOU O HORÁRIO DE VERÃO !



Olha amigos internautas; já estava ficando preocupado de não ter colocado nada novo no blog. Após uma noite com uma hora a mais; pois já não via a hora de acabar esse horário de verão. Acordei com a sensação de que não estava tão inspirado para escrever algo mediano para vocês. Foi quando verifiquei meus emails e uma seguidora de São Paulo enviou essa música e me disse que gostava muito e me lembrou que Ana Carolina também é de Juiz de Fora. Então pensei porque não começar o domingo com a sugestão dela e ao mesmo tempo homenagear essa mineira incrível.




Dr.Marcos Bersam

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

RETALHOS DE AZULEJOS


Sabe aqueles dias; ou melhor, aquelas noites que você sente uma vontade inexplicável de fazer companhia a si mesmo e o que menos importa é o destino; pois envolto nessa sensação quando dei por mim estava a dirigir meu carro escutando Elton John. De repente percebi que tinha que eleger um destino; ou uma parada; logo quando não sabemos para onde vamos podemos nos perder e isso sei que é perigoso. Escolhi o barzinho mais movimentado da zona sul; desacompanhado, mas não solitário pedi ao garçom a primeira cerveja da noite. Vocês sabem como é a vida noturna; gente falando mais do que escutando; carros potentes desfilando sons ensurdecedores que denunciam muitos adultescentes; uma mistura de adolescente com adultos. E na noite você com certeza estará cercado de vendedores de amendoins; CDs; DVDs; flores. Diante desse cenário quando o tédio dava sinais de me afligir; e num misto de desolação e tentando acreditar e conversar com pessoas que se acham sábias e inteligentes depois de alguns goles. Até aí não é novidade; pois sempre depois de certo tempo na mesa de um bar todos se atrevem sofismar sobre algo; alguma filosofia e por ai a noite toma contornos menos trágicos. Quando menos esperava chegou até a mesa em que estava um garoto que desmontou toda aquela basbaquice. O menino trazia no semblante olhos assustados com um misto de esperteza; sua pele negra; emoldurado por sobrancelhas finas e lábios também bem delicados mostravam que era um garoto bonito apesar de estar maltratado pela miséria. Podia se perceber que a camiseta e a sua bermuda não eram de sua numeração o que me fez pensar que tinha sido alguma doação; os pés descalços e sujos. As suas mãos pequenas e também pigmentadas com uma espécie de tinta. E o interessante é que esse garoto aparentando no máximo uns oito anos de idade carregava alguns retalhos de azulejos de formatos diversos e quebrados em uma de suas mãos. Antes de falar aquele não que sempre falamos quando estamos ameaçados; sem saber o que o outro precisa deixei que o garoto se aproximasse e dissesse o que queria. Ele me perguntou se podia fazer uma pintura improvisada num daqueles pedaços de azulejos. Sem nenhum apoio ou lápis; o mesmo colocou um pouco de tinta no indicador e começou a executar sua obra de arte; antes que o mesmo estivesse pronto já pude perceber e antever a paisagem que nasceria logo ali naquele pedaço de azulejo. Logo percebi que deveria perguntar quanto era; ele não estipulou e apenas disse que poderia dar o que acharia justo; fiquei na hora impressionado com a palavra justo; como saber o que é justo numa noite daquela em que um garoto trabalhava; talvez faminto de alimento; de reconhecimento de oportunidade. Não me sentia nem um pouco a vontade de dizer o que era justo! Ele fingindo que não tinha notado minha saia justa criada com a minha pergunta sem maldade me permitiu mudar o rumo da conversa. Perguntei ao jovem seu nome; e como ele arrumava aqueles pedaços de azulejos; com uma velocidade de raciocínio e uma fluência verbal ímpar ele disse que nunca faltaram obras e reformas na redondeza. Esse episódio me impressionou pela capacidade do ser humano não se colocar como vitima da situação; na verdade ele não pedia esmola; pedia atenção e reconhecimento. Ele fazia do refugo; do entulho e do lixo matéria prima para ser notado para se fazer sujeito no mundo. Existem pessoas que tem muito mais do que retalhos de azulejos de obras para recomeçar a vida e mesmo assim se lançam em lamentações sem fim; pensando que a vida foi injusta ou que merecia muito mais. Acredito que a vida; os universos em sua sabedoria sempre nos provem do mínimo; nunca nos retira tudo. Esse garoto com certeza não será um grande vencedor; ele já é. O ser humano quando acredita em sonhos com certeza vence barreiras e obstáculos. Ele com toda a sua inocência embrenhada com a malícia da vida noturna me colocou em xeque quando questiona a minha consciência com a expressão justo diante de sua conduta; de seu trabalho. Vocês sabem que a consciência não tira férias e quando é chamada quer participar a revelia de nosso orgulho ou de qualquer hipocrisia. A ajuda não é negada; pois inconscientemente esse comportamento do garoto nos toca. A nossa vida também é parecida com a desse menino; sempre abandonamos os retalhos de azulejos ofertados pela vida a nós; muitas vezes nos lançamos em busca de uma obra de arte de algum pintor famoso; ou atrás de telas que são copias mal feitas de telas de grandes nomes da pintura. Então se você tem mais do que um retalho de azulejo para viver; não espere mais você já tem o suficiente para recomeçar. O garoto está pelas ruas e você quando encontrá-lo pode sentir que você não está sozinho com seus retalhos; e quem sabe não podem se ajudar.
MARCOS BERSAM
PSICÓLOGO CLÍNICO

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Psicologia - Briga entre Irmãos e Relacionamento com os Filhos

Olá, amigos internautas!
Como prometido à vocês, estarei iniciando as postagens de mais videos meus com a análise de alguns temas do cotidiano, bem como destacando dicas e caraterísticas dessas relações humanas. O primeiro tema será "briga entre irmãos", onde se buscará a análise relacional entre irmãos e as vicissitudes de seu comportamento. Espero que gostem!

Dr.Marcos Bersam
visite o site www.marcosbersam.com.br


quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

PENSAMENTO DO DIA

"Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas, no que respeita ao universo, ainda não adquiri a certeza absoluta."

Albert Einstein

ILUMINANDO A IGNORÂNCIA



Olá, amigos internautas. Deixa eu confessar um coisa a vocês; uma das coisas que detesto são aqueles sujeitos e profissionais que apenas entendem as coisas só uma ótica empobrecida. Então temos psicólogos que só falam de medos, fobias; depressão; neuroses. Só que prefiro acreditar que a psicologia deve fazer interface com outros aspectos dentre eles político, cultural, religioso. Caso isso não seja respeitado sua inteligência vai esmaecendo. E basta algumas sessões de análise, de terapia para sabermos que não sabemos de nada a nosso respeito; a história das coisas; a história da nossa vida é muito mais complexa do que o raciocínio linear do presente. A alienação do desejo adoece. Então achei importante esse vídeo para lançar luzes na escuridão da ignorância que paira sobre nós. Eu sei que é meio enfadonho um video de 20 minutos; mas vale a pena conferir.

Dr.Marcos Bersam
visite o site www.marcosbersam.com.br

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

REFLEXÃO


Olá, amigos internautas. Hoje num mundo cada vez mais hedonista; num mundo onde somos condicionados desde pequenos a sermos os melhores; a acumularmos cada vez mais quinquilharias e exibirmos titulos. Um mundo cada vez mais balizado pela indústria farmacêutica; oferecendo um parafernália de medicamentos para depressão. Esse artigo do salgado da felicidade foi inspirado numa vivência real que aconteceu comigo. Acredito que após a leitura dele você poderá questionar se a receita que estão nos ensinando sobre felicidade não está falida.

um abraço.
Dr.Marcos Bersam

PENSAMENTO DO DIA

"A felicidade é um problema individual. Aqui, nenhum conselho é válido. Cada um deve procurar, por si, tornar-se feliz."

Sigmund Freud

O SALGADO DA FELICIDADE


Confesso a minha meia dúzia de leitores que o maior obstáculo de escrever artigos de psicologia para mim é ter um tema que permita passar de longe de algo enfadonho. E por isso estou sempre atento a algo que mereça ser contado ou escrito nesse espaço; só que essas observações não respeitam o calendário. Quanto menos espero estou a observar e a pensar: isso daria um artigo interessante! Foi envolto nesse clima que me vi capturado por um episódio interessante em minhas férias e aí decidi quando voltar para casa escrevo sobre o acontecido. Para quem acha que Psicólogo é um sujeito imune a erros; fica aqui meu protesto veemente. E às vezes os erros teimam em ser maiores que os acertos; não sei por que naquele mês de férias parece que tinha começado a gastar compulsivamente minha cota de equívocos. E acredito que o primeiro deles foi quando escolhi o destino; reservando-me o direito de ser politicamente correto acho mais elegante não revelar em que cidade de veraneio estava. Afinal o lugar não mudará o que acredito ser mais importante nesse artigo que é o personagem que conheci. Quando estava acreditando que minhas férias já deveriam estar sendo curtidas; vi-me atônito diante da falta de água recorrente nos verões daquela cidade; falta de cerveja e quando encontrávamos o preço estava inflacionado. Isso sem contar com aquele ritual de arrumar antena da TV; não sei por que sempre cabe a mim a tarefa de ajustar os canais que teimam em não responder de acordo. E vocês sabem como é o apelo insistente das mulheres querendo acompanhar a novela global. E para complicar a previsão do tempo era péssima para o período programado de minhas férias; lembro que na época prometi a mim mesmo que a próxima viagem seria para um pais europeu ou andino. Mas contrariando todas as expectativas quando o desanimo já tentava me dominar acordei com um gostoso incomodo de raios solares que adentravam o quarto atravessando a espessa cortina que emoldurava a janela. Não tive dúvidas peguei meu kit de praia e fui tentar curtir um pouco aquele momento único. E não precisa ser muito esperto para imaginar o furdúncio que estava na areia; todos estavam lá; crianças jogando bola; uma guerra de gêneros musicais que gerava um barulho e ruído insuportável. Vi que não seria possível nem ler meu jornal. Desisto; pensei comigo. Nesse ínterim fui abordado por um senhor de jaleco branco; pele negra de aproximadamente uns 60 anos e com um sorriso apaixonante que poderia ser usado perfeitamente numa propaganda de creme dental. Ele garantia a todos que ele vendia o melhor salgado daquele litoral; intitulado por ele como o SALGADO DA FELICIDADE. E sua camiseta branca não deixava nenhuma dúvida; com letras geométricas feitas com esmero na cor vermelha. Num primeiro momento não soube precisar o que me chamará a atenção naquele ambulante e isso fez com que dirigisse o foco de minha percepção para o comportamento dele. Ele afirmava a todos que estaria a disposição de quem quisesse experimentar o seu salgado; que estava caprichosamente acondicionado numa estufa improvisada. A primeira coisa que me chamou a atenção foi que ele diferentemente dos demais ambulantes não ficava andando de um lado para o outro da praia; parecia que sua sabedoria lhe indicava o melhor ponto da praia. E sempre desconfiei de quem anda de um lado para o outro nunca chega a lugar algum. Era como se ele soubesse que mais cedo ou mais tarde seriamos traídos pelo desejo de provar sua alardeada iguaria. Comecei a perceber que a pessoa pedia o salgado e vinha de brinde sem esforço algum um sorriso. De um jeito único de atender; comecei a entender que as pessoas estavam na verdade alimentando muito mais a alma do que o corpo. De alguma forma esse senhor magnetizava as pessoas com sua gentileza; cortesia e simpatia. Enquanto observava o vendedor de salgados não tinha notado que havia comprado quase inconscientemente quase uma dezena de salgado para mim e meus amigos. Eu que já tinha comido o salgado da vovó, da titia; mas foi a primeira vez que tinha experimentado o salgado do senhor felicidade. O nome de seu salgado na verdade era o seu codinome; ou sua digital; não poderia ter um predicado melhor escolhido do que esse. Na contramão desse vendedor ambulante que prosperava ali naquele cantinho da praia passavam ambulantes vendendo de tudo um pouco; mas nenhum deles era apaixonante como esse senhor. Uns pegavam latinhas na areia; outros com uma sisudez medonha; outros cabisbaixos; outros pareciam não estar vendendo nada apenas tentavam matar o tempo de alguma forma; outros tantos pareciam que eram carregados pelo seu isopor. Na verdade o segredo daquele senhor não era o recheio; mas os sonhos que ele vendia. Entendi que as pessoas que compravam o salgado de certa forma queriam comprar o segredo de tamanha alegria. Aquele senhor estava fazendo o que muitos deixaram de fazer em suas profissões. Contagiar o outro de modo que o fazer ganhe contornos mágicos; ora encantando ou curando. Quando você se entusiasma com o seu fazer você acende os lampiões que outrora andaram apagados nas profundezas do coração amargurado. No último dia de praia estava cumprindo o ritual de todo bom mineiro; o último mergulho; o abraço no mar; a última cerveja e me deu vontade também do degustar o salgado da felicidade. Naquele dia senti como fez falta aquele Senhor Vendendo os salgados da felicidade; constatei o que muitos já ouviram e disseram; pessoas com gestos tão pequenos podem se tornar marcantes e inesquecíveis. Enfim independente de sua profissão; de seu sonho; de seu projeto; de seu amor lembre-se que é na despedida que sabemos aquilo que valeu a pena. E a certeza de que quando você encanta o outro você está condenado a existir eternamente na lembrança dos que um dia te viram viver.
MARCOS BERSAM
PSICÓLOGO CLÍNICO.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

PENSAMENTO DO DIA:

"Aprendi o segredo da vida vendo as pedras que choram sozinhas no mesmo lugar"

letra da música "Medo da Chuva", de Raul Seixas

PRA OUVIR E REFLETIR.


olá amigos internautas. É cada vez mais frequente na minha atuação com Psicólogo Clínico me deparar com demandas no consultório de pessoas que questionam papéis, funções, relacionamentos, escravidão, posse, liberdade, medos e mudança. E por um instante sentem-se amordaçadas e mergulhadas no atoleiro da depressão sem forças para recomeçar. Apesar de saberem o que está de errado não acreditam serem capazes de ousar, arriscar. Acho que essa música pode fazer você refletir um pouco sobre a dinâmica de sua vida.

Veja à seguir o vídeo da música "Medo daChuva", e Raul Seixas.
Dr. Marcos Bersam
www.marcosbersam.com.br




domingo, 13 de fevereiro de 2011

RECADO


olá amigos internautas, algumas pessoas tem enviado emails querendo saber como funciona o atendimento psicológico on line. Qualquer dúvida acesse o site www.marcosbersam.com.br lá você encontra valores da sessão e todo o procedimento. Você que tem pretensão de fazer acompanhamento on line deve se certificar se o site oferece a garantia e chancela do CFP; pois o selo é a garantia que você será atendido por profissional de Psicologia. Desejo a todos um bom início de semana e em especial aos amigos de Belo Horizonte, Maringá, Cataguases, Contagem, Juiz de Fora, São Paulo, Argentina, Portugal que estão sempre prestigiando o blog. Em breve estarei postando novas entrevistas minhas a tv panorama afiliada da Rede Globo Minas. E sem querer abusar de vocês gostaria de pedir para divulgarem em suas redes sociais o blog e o site.



um abraço.
Dr.Marcos Bersam

PENSAMENTO DO DIA

"Ansiedade é a diferença entre o tempo de querer de Deus e o tempo do nosso próprio querer"

Berg Brandt

COMO ELIMINAR O ESTRESSE DE SUA VIDA



Existem várias formas de descomprimir e relaxar depois de um dia particularmente agitado e stressante, mas o mais certo é que o dia seguinte trará mais do mesmo. Daí a importância de perceber a raiz de todo esse stress e eliminá-lo de uma vez por todas!
Uma revisão cuidada da sua vida, juntamente com a alteração de alguns hábitos, pode eliminar grande parte das fontes de stress no seu quotidiano. Sejamos realistas, uma vida sem stress não é possível. O stress é uma resposta natural aos desafios da vida e uma vida sem desafios seria demasiado entediante. É ou não é? No entanto, grande parte do stress que existe nas nossas vidas é completamente desnecessário e pode ser facilmente eliminado graças a alguns passos simples (e outros não tão simples quanto isso, mas já lá vamos). Claro que isto não pode ser concretizado da noite para o dia, mas é algo em que vale a pena investir.
Antes de mais, vamos reflectir sobre o seguinte exemplo – é um pouco exagerado, mas exemplifica as fontes de stress mais típicas nas vidas das pessoas que habitam o século XXI. O Miguel levanta-se de manhã, já tarde e tem de correr para se arranjar e sair de casa: corta-se a fazer a barba, entorna o copo de sumo que bebeu à pressa na camisa e tem de mudar de roupa. Sai de casa a correr, só para voltar atrás porque se esqueceu da carteira. Chega ao carro e não tem as chaves, toca a voltar a casa. Finalmente na estrada, mais atrasado do que nunca e no meio de um trânsito infernal, começa a ficar chateado depois de ter sido ultrapassado e não tarda nada está a buzinar e a chamar nomes a todos os condutores. Chega ao escritório tarde e muito mal disposto. Fala torto para todos e está de má cara toda a manhã. O facto de a sua secretária estar coberta em papéis, não conseguir encontrar o relatório que precisa e uma caixa de e-mail com 20 mensagens por ler também não ajuda. Para além disso, sabe que tem dois projectos que estão super-atrasados e que o seu director está tudo menos contente. Tem de terminar 5 tarefas antes da reunião do meio-dia e depois vai passar a tarde toda em mais e mais reuniões.
Já perceberam a ideia, não já? O dia do Miguel foi péssimo e de regresso a casa, teve a companhia de um enorme engarrafamento. Chega tarde, exausto, completamente stressado e com os pensamentos no trabalho que deixou por fazer, nos e-mails que não conseguiu despachar e nas tarefas acumuladas que o esperam amanhã. A casa está uma confusão e ele começa a resmungar com os miúdos que não arrumaram os brinquedos como deve ser. Come uma refeição rápida e gordurosa em frente à televisão, onde acaba por adormecer.
OK, sabemos que este cenário é exagerado, mas a verdade é que acontece! E para além das várias fontes de stress que tornaram o dia do Miguel num dia para esquecer, existem muitas mais e todos vocês sabem quais são.
A lição mais importante a retirar de toda esta história é que, com um pouco de reflexão, estas fontes destress podem ser eliminadas. Veja como:
  1. Identifique as suas fontes de stress. De todos, este é o passo mais importante. Ser capaz de identificar as suas fontes de stress é o primeiro passo para poder eliminá-las efectivamente. Pare para pensar 5 ou 10 minutos sobre as coisas que tornam os seus dias e as suas semanas mais stressantes. Quais são as pessoas, as actividades, as tarefas ou as coisas que considera serem a raiz de todo o seu stress. Elabore uma lista das top 10 e veja o que pode ser eliminado de imediato. Para aquelas que não têm uma solução definitiva, procure formas de as atenuar, tornando-as menos stressantes.
  2. Elimine obrigações desnecessárias. A nossa vida está cheia de obrigações, começando com as profissionais e passando pelas familiares, as cívicas, as tarefas domésticas e aquelas ligadas a instituições, associações ou paróquias; terminando nos passatempos, actividades desportivas, culturais e online, entre muitas outras. Pese cada uma individualmente: a quantidade de stress que produzem versus o valor que retira de cada uma. Seja radical e faça o que tiver de fazer para eliminar aquelas que lhe proporcionam mais stress do que prazer.
  3. Procrastinação. Deixar para amanhã aquilo que pode ser feito hoje – todos fazemos isto! Só que, ao deixar que os afazeres da sua vida se amontoam, também gera stress. Desenvolva o hábito de “fazer agora” ou “tratar imediatamente” e mantenha tudo sobre controlo e em dia.
  4. Desorganização. Todos temos uma pontinha de desorganização dentro de nós. Mesmo que tenhamos desenvolvido e executado um sistema de organização perfeito para isto ou para aquilo, a ordem natural das coisas é, mais tarde ou mais cedo, o desleixe que, se não for travado a tempo, pode tornar-se caótico. E a desorganização também é stressante – visualmente é horrível e se nos impede de encontrar as coisas que necessitamos, pior ainda! Reserve um tempinho para se organizar: comece com o escritório e os mil e um papéis que lá abundam, passando progressivamente para as restantes divisões da casa.
  5. Atrasado. Estar atrasado stressa qualquer um. Temos de correr para nos arranjarmos, correr para chegar ao sítio aonde já devíamos estar, enquanto stressamos durante todo o processo sobre estar atrasado e que mal que vai parecer! Aprenda a chegar cedo, faça deste um novo hábito e vai ver como se livra desse maldito stress! Faça um esforço consciente para chegar sempre cedo, assim também poderá sair mais cedo. Um resultado directo deste esforço é que conduzir vai ser muito menos stressante. Cronometre o tempo que demora a arranjar-se, sair de casa e chegar ao emprego, por exemplo… se calhar até é mais rápido do que pensa, não? Uma vez familiarizado com os seus “tempos”, basta começar 10 minutos mais cedo, para chegar a todo o lado com 10 minutos de antecedência, nas calmas e sem stress… é uma sensação fantástica!
  6. Controlador. Embora gostaríamos de ser, não somos o “Mestre do Universo”. Tentar controlar tudo e todos não funciona, mas tentamos fazer isso mesmo e quando verificamos que, de facto, não gera resultados, os nossos níveis de ansiedade sobem em flecha. É importante aprender a deixar as coisas fluírem naturalmente, respeitar a forma como as outras pessoas fazem as coisas, aceitar o desfecho das diferentes situações que povoam a nossa existência. A única coisa que realmente pode controlar é você próprio – aperfeiçoe isso antes de tentar controlar o resto do mundo. Para além disso, procure distanciar-se das suas tarefas e aprenda a delegar. Deixar de tentar controlar as pessoas e as situações que nos rodeiam, é um passo importante para uma vida sem stress.
  7. Múltiplas tarefas. Executar, em simultâneo, múltiplas tarefas pode parecer produtivo, mas na realidade torna-nos mais lentos na medida em que não conseguimos concentrar-nos o suficiente numa só tarefa para poder conclui-la. Entretanto, ficamos stressados. Faça apenas uma coisa de cada vez.
  8. Elimine os “suga-energias”. Se já parou para analisar a sua vida (passo 1) e identificou as suas maiores fontes de stress, provavelmente também descobriu algumas coisas que lhe sugam a sua preciosa energia. Existem certas coisas na vida que são mais exaustivas que outras e com a desvantagem que não têm qualquer valor acrescentado. Saiba quais são e faça um deletepermanente. O resultado? Mais energia, menos stress, mais felicidade.
  9. Evite as pessoas difíceis. Sabe exactamente quem são. Sim, directores, colegas de trabalho, clientes, vizinhos, até alguns amigos e familiares – aquelas pessoas que tornam a sua vida mais complicada. Por outro lado, podia sempre confrontá-los e discutir as vossas desavenças, mas isso seria ainda mais stressante. O mais fácil é simplesmente (e na medida do possível) cortar relações.
  10. Libertar a agenda. Crie mais tempo livre na sua vida. Não é crucial que agende e programa cada minuto da sua existência! Aprenda a evitar reuniões e a agrupar tarefas num só bloco de tempo. Quando alguém lhe pede para agendar uma reunião, tente primeiro resolver o assunto pelo telefone ou por e-mail. Vai adorar ter uma agenda mais vazia.
  11. Ajude os outros. Pode parecer contraditório acrescentar mais tarefas a uma vida já por si muito ocupada, mas se puder adicionar alguma coisa, então seria isto. Ajudar outras pessoas – seja através de voluntariado numa instituição de solidariedade social ou simplesmente ser simpático e afável para com as pessoas da sua vida, conhecidos e desconhecidos – vai trazer-lhe não só sensações de bem-estar, mas contribuir para a redução dos seus níveis de stress. Claro que não vai funcionar se tentar controlar essas pessoas ou se essa ajuda se manifestar de uma forma apressada e a “despachar”. Aprenda a relaxar, a deixar as coisas acontecerem e a tirar prazer de ajudar os outros.
  12. Relaxe ao longo do dia. É importante que ao longo do dia, principalmente no trabalho, faça pequenas pausas. Durante alguns minutos, pare tudo e massaje os seus ombros, pescoço, cabeça, braços ou mãos; levante-se, estique as pernas ou espreguice-se; dê uma pequena caminhada; beba água. Se puder, vá até lá fora, apanhe ar fresco e contemple o céu azul. Dê dois dedos de conversa com alguém com quem goste mesmo de falar. A vida não se resume apenas a níveis de produtividade. As pausas de muitas pessoas são feitas a navegar online – para relaxar completamente, fuja do computador sempre que possível.
  13. Simplifique a sua lista de afazeres. Todos temos uma lista de afazeres que, com cada dia que passa, parece crescer em vez de diminuir, assim como o nosso stress por não conseguirmos começar a riscar itens dessa lista, assinalando-os como concluídos! Agrupe ou delegue tarefas, de forma a simplificar essa lista, reduzindo-a para incluir apenas as empreitadas essenciais. A partir daí, o processo será mais fácil e a satisfação retirada do mesmo, maior.
  14. Exercício físico. No que toca a aliviar stress, esta dica é senso comum porque… funciona! Para além de aliviar, praticar exercício físico também é uma excelente maneira de prevenir contra ostress, uma vez que lhe proporciona algum tempo de qualidade sozinho, perfeito para relaxar, para contemplar, para esquecer e, ainda por cima, para se manter em forma! As pessoas que estão em forma têm uma maior capacidade de lidar com o stress. O reverso também é verdade: o facto de não estar em forma ou de viver uma vida pouco saudável pode ser, em si, uma fonte destress.
  15. Alimentação saudável. Obviamente. De mãos dadas com o exercício físico, também uma alimentação saudável e equilibrada é uma excelente forma de expulsar o stress, evitando que ele volte a aparecer. A velha máxima “nós somos o que comemos” nunca foi tão verdade!
  16. Seja agradecido. Ter e manter uma atitude onde agradece as coisas boas da vida, pensa de forma positiva e põe de parte toda a negatividade, é uma forma poderosa de eliminar o stress da sua vida. Aprenda a reconhecer e a agradecer a vida que tem e as pessoas que estão do seu lado – são tudo dádivas (principalmente quando comparadas com as vidas de tantas outras pessoas). Uma atitude positiva na vida é a melhor solução para substituir o stress por alegria.
  17. Ambiente zen. Trabalhar e viver em ambientes simples, organizados, limpos e tranquilos, ao invés de cenários caóticos e repletos de distracções desagradáveis, é mais uma fórmula eficaz para uma existência livre de stress.


sábado, 12 de fevereiro de 2011

DOR NO PEITO E SINDROME DO PÂNICO


O Transtorno de Pânico é caracterizado pela ocorrência espontânea e inexplicável de ataques de pânico, que são períodos de intenso medo, podendo variar desde diversos ataques ao dia até poucos no curso de um ano. A expressão desse medo é manifestada por sintomas emocionais e físicos, tais como, taquicardia, sudorese, falta de ar, medo de enlouquecer, perder o controle ou morrer. É também freqüentemente que essas crises de Pânico sejam acompanhadas por agorafobia, que é o temor de se encontrar sozinho em lugares dos quais seja difícil uma saída rápida, no caso da pessoa “passar mal”. 

Um dos sintomas físicos responsáveis pelo paciente com Pânico procurar um Pronto Socorro é a dor no peito (dor torácica), reforçando ainda mais a idéia de que ele esteja tendo realmente um problema cardíaco grave, com a vida em risco. Normalmente é essa dor torácica que leva o paciente à busca repetida por inúmeros atendimentos em unidades de urgência, cardiológicas ou outros serviços médicos.

Gastão Luiz Fonseca Soares Filho, Alexandre Martins Valença e Antonio Egidio Nardi, publicaram um estudo de caso bastante útil para abordagem da relação entre as Crises de Pânico e os quadros de Dor Torácica (Soares Filho e cols., 2007).

De fato, a principal causa de dor torácica orgânica é de origem miocárdica, e se desenvolve quando o fluxo de sangue nas artérias coronarianas é insuficiente, ou seja, quando á uma Doença Arterial Coronariana. A persistir o problema ocorre o Infarto do Miocárdio. Os autores do artigo supra-referido ilustram a comorbidade (concordância) entre o Transtorno de Pânico com a Doença Arterial Coronariana. Eles alertam para o fato do diagnóstico de Transtorno de Pânico raramente ser feito e das graves conseqüências que podem decorrer disso.

Para confundir ainda o raciocínio clínico, devemos lembrar que 6 dos 13 sintomas básicos do Transtorno de Pânico são também encontrados em doenças do coração, como por exemplo, a dor torácica, as palpitações, sudorese, sensação de asfixia, sufocação e ondas de calor (Fleet et al., 2000). Tendo em vista essa semelhança entre os sintomas cardíacos e de pânico, é claro que a pessoa acometida por ataque de pânico, acreditando estar na iminência de um infarto agudo do miocárdio, busquem avidamente os serviços de emergência.

Curiosa e inversamente, também alguns dos principais sintomas da doença arterial coronariana e do infarto do miocárdio também sugerem estar havendo uma crise de Pânico. Os autores relatam um estudo com pacientes de serviços de emergência com sintoma de dor torácica, avaliados por meio de teste ergométrico ou arteriografia coronariana, e submetidos também a uma entrevista psiquiátrica anterior à entrevista cardiológica. Os dados foram muito significativos.

De 1.364 pacientes com dor torácica, 411 (30%) apresentavam Transtorno de Pânico. Desses 411 com Transtorno do Pânico, 306 (75%) não tinham diagnóstico de Doença Arterial Coronariana. Por outro lado, foi um dado muitíssimo interessante que, dos 1.364 pacientes, apenas 248 (18%) apresentavam Doença Arterial Coronariana sem Transtorno de Pânico.

Algumas conclusões importantes podem ser tiradas desse estudo. Dentre aqueles que chegaram à emergência com dor torácica, 30% apresentavam Transtorno de Pânico e 22% tinham Transtorno de Pânico sem Doença Arterial Coronariana. Analisando apenas aqueles com Transtorno de Pânico, 75% não apresentavam Doença Arterial Coronariana.

Embora tenha sido encontrada uma grande proporção de pacientes com Transtorno de Pânico sem Doença Arterial Coronariana, ainda assim é muito relevante o achado de que aproximadamente 26% dos pacientes com Transtorno de Pânico também tinha Doença Arterial Coronariana (Lynch e Galbraith, 2003). Isso quer dizer que, de rotina, a dor torácica deve ser sempre investigada com atenção, seja no Transtorno do Pânico ou não, buscando a identificação precoce de riscos orgânicos de ameaça à vida.

Resumindo, são comuns pacientes com ataques de pânico que apresentam concomitantemente dor torácica e palpitação. Por conta disso, anseiam por grande urgência de atendimento. A dor torácica em pacientes portadores de Transtorno de Pânico tem prevalência de 25% a 57% (Carter e cols., 1994; Fleet e cols., 1996). Como procuram emergências clínicas, o sintoma de dor torácica é investigado sob a ótica da Doença Arterial Coronariana.

Sabe-se então que dor torácica é mesmo um sintoma freqüente nos pacientes portadores de Transtorno de Pânico sem Doença Arterial Coronariana. Mas não se pode, de forma alguma, subestimar a o fato de que outros pacientes portadores de Transtorno de Pânico podem, de fato, apresentar Doença Arterial Coronariana. Alguns autores verificaram uma prevalência de 57% de Transtorno de Pânico em pacientes cardiopatas (Beitman e cols., 1987).

Uma avaliação médica restrita apenas à área cardíaca, embora traga conveniente conforto ao médico assistente, pode desencadear no paciente um incômodo processo de angústia investigativa de seu diagnóstico. Não é raro que o médico do serviço de emergência sentencie solenemente “... – você não tem nada... procure um psiquiatra”, sugerindo assim subestimar a queixa do paciente, duvidar de seu sintoma e atribuir à psiquiatria a função de ‘tratar’ de quemnão tem nada.

Parece que a crença habitual dos clínicos desses serviços de emergência é que basta a informação dada ao paciente, de que seus sintomas não se devem a um evento cardíaco agudo, seja suficiente para gerar alívio dos sintomas e interrupção dos ataques de pânico. Este é um raciocínio linear e absolutamente simplório. O paciente é, sobretudo, um ser emocional que não se conduz predominantemente pela razão. Ou não estaria achando que pode perder o controle e morrer de repente.

Existem trabalhos demonstrando que apenas os resultados negativos de exames cardíacos como, por exemplo, a avaliação clínica (Mayou e cols., 1994) ou teste ergométrico (Channer e cols., 1987), são absolutamente insuficientes para o paciente convencer-se e suprimir automaticamente os sintomas do pânico e a crença de que está enfartando. Segundo ainda Gastão Soares Filho e cols. (2007), nem mesmo quando os pacientes são submetidos a exames mais invasivos (e perigosos), como a coronariografia, os resultados normais são insuficientes para gerar tranqüilidade e ausência de sintomas.

Outro mau hábito dos serviços de emergência é quando os médicos assistentes deduzem, precipitadamente, que o paciente com dor torácica, palpitação, sudorese e ansiedade é portador apenas de Transtorno do Pânico, principalmente quando vem com antecedentes dessas crises, negligenciando assim a concomitância de Doença Arterial Coronariana.

A “cegueira” diagnóstica e de tratamento do Transtorno de Pânico para o paciente que busca repetidamente atendimento em serviços de emergência, quando da ocorrência de ataques de pânico com dor torácica, faz com que eles passem a ter uma vida significativamente limitada, sem alívio dos sintomas e do medo e da ansiedade (Lynch e Galbraith, 2003). A abordagem inadequada do Transtorno de Pânico presente nos casos de dor torácica invariavelmente produz a cronificação dos sintomas, limitação das atividades e redução da qualidade de vida, além de uso excessivo e inadequado de exames clínicos e recursos médicos.

A precariedade no diagnóstico de Transtorno de Pânico em serviços de emergência é bem demonstrada no trabalho de Fleet e cols. (1998), em pacientes com dor torácica. Observou-se que entre os pacientes que apresentavam critérios diagnósticos para Transtorno de Pânico, apenas 2% tiveram o diagnóstico correto no momento da chegada.

A atitude, como se diz, de “empurrar com a barriga” esses casos na expectativa de que os sintomas desaparecerão com o tempo também é uma falsa crença clínica. Bass e cols. (1983) acompanharam por um ano pacientes com dor torácica e coronariografia normal. Quase metade deles (41%) continuava com a queixa de dor torácica, e 63% ainda se consultava com médicos não psiquiatras. Potts e Bass (1995) acompanharam pacientes sem adequada abordagem psiquiátrica e condições de dor semelhantes por 11 anos, constatando-se que 74% deles continuava se queixando de dor torácica.

Citado por Gastão Soares Filho (2007), outro trabalho de Wulsin e cols. (1988), o diagnóstico de transtorno psiquiátrico foi feito em apenas 1 de 30 pacientes com Transtorno de Pânico, mostrando falta de diagnóstico em 97% dos atendimentos. Investigadores têm buscado medidas para minimizar a dificuldade diagnóstica apresentada pelos profissionais que trabalham em serviços de emergência.

para referir:
Ballone GJ - Dor no Peito no Transtorno do Pânico - in. PsiqWeb, Internet, disponível em 2007.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

PENSAMENTO DO DIA:

"É difícil acreditar que um homem esteja a dizer a verdade, quando você sabe muito bem que mentiria se estivesse no lugar dele."
Henry Ford

DESCULPA QUALQUER COISA

Estava a refletir outro dia sobre uma frase comumente ouvida por muitos; tem certas pessoas que se desculpam por algo que nem elas sabem. Confesso a vocês que se você não se policiar não demora muito você esta a repetir o mesmo clichê. O que faz um sujeito pedir desculpa sem saber se cometeu algum deslize; ou grosseria?

Pensando um pouco mais; acredito que devido a autoestima muitas vezes em frangalhos e com a sensação iminente de menos valia; nos desculpamos sempre. Tais pessoas acreditam que são inferiores; sentem-se diminuídas pelos outros. Não venham me dizer que pedir desculpa é um gesto de educação.

Se você acha que tem que agradar sempre; se você acha que não pode contrariar o interlocutor; que o dizer não é um direito seu. Que o sim não merece ser dito em meio a contrariar seus valores; gostos ou preferências. Caso você se identifica com essas situações você é um forte candidato a pedir desculpa por tudo; como mecanismo de defesa egoico de sua insegurança e neurose.

Agora quando a desculpa é reflexo de uma atitude sincera de arrependimento; deve-se aplaudir tal gesto. Nunca é demais atestarmos que é salutar e edificante reconhecer seu erro e na nada mais apropriado que um pedido de desculpa sincero. Quando acontece nesse contexto revela maturidade e humildade e demonstra que sua consciência ainda norteia seus atos.

Agora se você é daqueles que usam aquela frase sem sentido no final de uma conversa “….desculpa qualquer coisa....”; como o outro vai desculpar se ele não tem bola de cristal; e nem tem o dom de advinhar; e nem ele sabe do que você está falando. Quando pedimos desculpa é necessário que a comunicação seja direta e transparente. A pessoa que pede desculpa a revelia na verdade tem a certeza de que sempre é demais; é inconveniente e quem tem serias dúvidas em relação a seu potencial. E não seria nenhum exagero recomendar a esse seujeito dar uma dar uma passadinha no psicólogo.

Então fica combinado ninguém é obrigado a agradar a todos; não sei se vocês sabem; mas existe uma máxima que diz “ o segredo do sucesso ninguém conhece; mas a do fracasso é querer e acreditar que é possível agradar a todos.” Só podemos dizer que o sujeito construiu uma identidade quando ele sabe e tem consciência de que possui limitações e potencialidades.

Então amigo leitor se você não gostou desse artigo; apenas lamento. As desculpas ficam reservadas para dissabores inevitáveis da vida.

Marcos Bersam,
Psicólogo Clínico

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

POEMA



Falas tanto de tua dor.
Queres ficar bom ou cultivar a dor?

A dor valorizada se transforma em vício.

Parece paradoxal, mas o cultivo da dor pode ser uma forma de preencher o tempo vazio.

Quem tem muito o que fazer, não tem tempo disponível para dedicar-se à dor.
Afinal, a dor nunca é boa companhia.

Guimarães Rosa

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

PENSAMENTO DO DIA

"A dor acostumada não se sente." 
Luís Vaz de Camões

MULHERES MARCADAS PARA SOFRER.


Por que certas mulheres escolhem homens inescrupulosos e mantém relacionamentos doentios?

Olá amigos; nesse artigo vamos falar de humilhacao, desprezo, dependência, sofrimentos e desilusão e falência emocional. Como terapeuta é muito comum ser procurado por pessoas principalmente mulheres que buscam ajuda. Quando pedem socorro, encontram-se falidas emocionalmente e em muitos desses casos, a causa apontada por essa é um relacionamento com um homem ausente e inacessível. Tal relacionamento é elencado por ela como causador dessa derrocada existencial.
 

É bem provavel que vocês que estão lendo esse artigo,  conhecem alguma mulher que mantem um relacionamento com parceiros que tem esse perfil.
Ela torna-se um verdadeiro lacaio desse homem, ou seja, pode ser alcoólatra, viciado em jogos, em mulheres; em trabalho. Enfim, qualquer componente que faça com que ele não possa amar e ser amado integralmente. Se vocês não sabem; trata-se de uma neurose, a mulher que escolhe tal companheiro para viver entende equivocadamente a lógica do amor pelo medo.Pode-se dizer, que ela não o ama apesar de dizer e afirmar o contrário. Essas mulheres têm relacionamentos intensos e sempre saem machucadas, pois elas acabam perderam a capacidade de escolher e detectar uma relação doentia de início.
 

Na verdade entra nessas relações por temor, medo do abandono. Esse tipo de mulher exerce certo magnetismo; atraindo para si homens canalhas e inescrupulosos, e esses também gritam por ajuda. Esses homens, comportam-se como vítimas da vida, abandonados e confusos. É uma particularidade dessas mulheres empreenderem esforços desatinados para resgatar marcas profundas do passado de sua infância, isto e, quase sempre forjados num ambiente de escassez afetiva, e concomitantemente com a iminência aterrorizadora do abandono.
 

Na idade adulta; reedita tais marcas do passado no frenesi de equacionar o hiato e a fenda emocional de outrora,  num parceiro que precisa ser ajudado. tanto quanto ela. Essa dedicação incondicional da mulher,  em ofertar ajuda ao parceiro ; na íntimo é o eco de uma tentativa desesperada de fechar as chagas emocionais de sua infância. A mulher marcada para sofrer tem uma autoestima em frangalhos,  como se essa  estivesse com muita sede no deserto, quase morrendo desidratada; diante da primeira poça de água suja a mulher matará sua sede. Esse tipo de mulher pensa:" ruim com ele, pior sem ele".
 

Esses homens identificam inconscientemente a mulher sofredora, ou seja, frases tais como: " Não vivo sem você", " Nunca vou desistir de você", " Vou cuidar de você", podem apontar para uma tendência a destrutiva em relações afetivas.
 

Essas mulheres não se interessam por homens sensatos, inteligentes e disponíveis. Esses são vistos por elas como sujeitos enfadonhos e desinteressantes.  A mulher neurótica não pode arrumar alguém que a valorize; pois isso destroi o significante de menos valia engendrado em sua mente. Se relacionar com alguém "bom", pode significar desmontar a crença de que "Não mereço muito da vida", com isso essa ela sempre buscará quem pode dar menos. Entende?
 

É como se pensassem:" sinto-me menor, pequena e insginificante e nunca importante". Como pode alguém querer me amar de maneira saudável?    Desse modo, o afeto negado na infância, sabota sempre as relações promissoras e saudáveis, tal como um bússola a mulher aponta seu desejo sempre para homens que podem ferir ou machucar.
 

A mulher marcada para sofrer esta sempre saindo de ralacionamentos, e arrumando outro parecido ou pior do que o anterior. Essa mulher se envolve apressadamente, isto é,  a sensatez é inimiga mortal do homem problema e da mulher sofredora. Pode-se falar, que os parceiros apressados, são adultos aprisionados em mentes infantis; órfaos do amor e do desejo. A mulher em  questão,  tem "pena" do seu parceiro, ora achando ser capaz de ajudá-lo, assume sempre  responsabilidade e  a culpa pelos sucessivos fracassos do desse. Enfim, anula-se como pessoa na tentativa de reafirmar neuroticamente o seu amor; a justificativa é a racionalização  do "erro" do parceiro. Tais condutas são mecanismos defensivos do ego, que tornam a percepcão da realidade equivocada e nebulosa. Ajuda-o finaceiramente, mas sempre esta cobrando do parceiro varias coisas,  é sufocadora não aguentando administrar a ansiedade, liga inúmeras vezes durante o dia,  exige e cobra com juros e correção retribuição, ou seja usa a lógica da cobrança.
 

Eu te liguei! Porque você não me ligou? Eu fiz! E porque você não fez? De modo geral esse homem aproveita e vampiriza sugando todas as potencialidades dessa mulher, tornando-se uma relação unilateral e assimétrica. A mulher sente que sua vida não anda, e como se todos os namorados e ralacionamentos fossem a mesma pessoa e no fundo são.Todos têm em comum o mesmo traço de personalidade, todos são potenciais entorpecentes que são usados para anestesiar um sofrimento de outra ordem. Tal como outra droga anestésica que provoca uma cisão da personalidade.
 

 Essa mulher de modo geral passa uma vida toda lamuriando e angustiada; acahando-se culpada de não ter feito o dever de casa para solucionar o problema. A esperança que um dia o parceiro mudará, aduba a sua neurose.
 

Finalmente, não confunda amor com dor, anulação com doação, não transfira para o outro a responsabilidade de cuidar de suas feridas e não faça do seu relacionamento o remédio, ou o veneno para cicatrizar feridas antigas.

MARCOS BERSAM
PSICÓLOGO CLÍNICO