sexta-feira, 10 de junho de 2016

RATOEIRA MENTAL

Ah! Coitado!
Viciado em ter pena de si mesmo.

Tem um tempo que você conhece fulano, não é de hoje tal relacionamento, assim, foi inevitável achar que a vida estava sendo injusta com ele. Respeitando a sua consciência, claro, ensaiava planos, dava dicas para reverter o marasmo que pairava sobre tal pessoa. Era crescente a sensação de ter alguma responsabilidade sobre o destino final da vida dele, talvez um misto de um sentimento de impotência e culpa incipiente. Ah! Coitado! Fulano não tem sorte mesmo! Ele é sempre injustiçado! Ninguém reconhece o seu valor! 

Entretanto, depois de observar, um pouco mais, atentamente, percebeu que fulano tinha o hábito de fazer-se de vitima, assim a autopiedade-vitimista de plantão, era um traço de sua personalidade. Tal vício mental, construía crenças e paradigmas psíquicos disfuncionais e deletérios em todos os segmentos de sua vida, ora, havia uma compulsão e necessidade de sentir-se incapaz, inferior, nunca querendo assumir responsabilidades sobre sua vida; por fim, culpava as circunstâncias externas e justificava sua inércia existencial. Essa pessoa não era, de fato, tão miserável como parecia ser. 

Quando pessoas desse quilate emocional procuram a terapia, quase sempre, chegam com argumentos de autopiedade, por exemplo, mesmo tendo o mínimo de condição financeira para custear o processo terapêutico, barganham descontos; querem dar pouco de si, e, tentam convencer o “outro” de sua miserabilidade existencial.

O objetivo é fazer da terapia uma extensão do jogo de autopiedade, logo, a indisponibilidade em arcar com os custos do tratamento é uma forma de perpetuar o lugar de “pobre coitado”. A autopiedade só é desfeita quando o “outro” não aceita tal pacto, uma das formas eficazes de fazer isso é cobrando e fazendo do pagamento –dinheiro, um antibiótico eficaz.


marcos bersam
psicólogo clínico
www.marcosbersam.com.br

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