segunda-feira, 15 de outubro de 2012

PEDIR OU MANDAR.



Hoje, vamos falar de um tema muito interessante na educação de filhos e nos relacionamentos, de maneira em geral. Com certeza, será polêmico, pois, em alguns momentos, estarei na contramão dos politicamente corretos, ou melhor, dos psicologicamente corretos.

Quando devemos ordenar e quando devemos pedir? Quase todos acham que mandar, ordenar é algo antiquado e malvisto na sociedade, representa arrogância e revela um comportamento ditatorial. E aí, vem aquele clichê de que sempre devemos pedir. Será? Quando uma mãe diz: “Filho, estou te pedindo para estudar”; “Estou pedindo para se alimentar direito”, e muitas vezes sempre ouço isto: “Peço, mas não sou atendida” – exclama a mãe, aflita.

Quando uma criança se dirige a um local perigoso não adianta a mãe pedir, ela tem que agir, ordenar, intervir para o bem-estar do filho. Esta noção de temporalidade, de organização espacial se faz necessário para que a criança, a posteriori, consiga estabelecer metas claras, organização nas tarefas a desempenhar, bem como estruturação emocional.

Já na adolescência, encontramos outro cenário, a responsabilidade deve vir de forma gradual, pois muitos adolescentes querem algo que não têm condição construir. Nesta fase, que encontramos grande capacidade de julgamento, refletindo sobre seu pensamento a fim de oferecer justificativas lógicas para o julgamento que faz. Se o sujeito não arruma o quarto dele, então, como pode viajar sozinho para a praia com amigos? Quando se pede, possibilita uma escolha, uma recusa, outra resposta.

Algumas mães dizem: “Eu imploro para o fulano não fazer isso”. Nesse ponto, a autoridade foi perdida e, para retomá-la, será preciso grandes sacrifícios. A verdade é que só ordena quem sabe exercer a lei e a autoridade, e aí vem outro dilema: os filhos não sabem a quem obedecer. A mãe põe de castigo, o pai tira e a avó completa: “Coitadinho dele!”.

Está montada a confusão.

Atualmente, existe o medo do trauma. Muitos pensam que mandar vai traumatizar. Mentira! Quando você oferece muitas alternativas em momentos de desenvolvimento emocional, acaba revelando descuido, insegurança e gera medo e pânico em crianças e adolescentes. Existem pais hoje que, em nome da modernidade, não impõem nada: “meu filho não se alimenta porque ele não quer”,“meu filho não estuda porque quer ficar na lan house o dia todo”“meu filho não dorme cedo porque assiste TV até tarde”.
Em nome da educação moderna, de tudo escolher, de tudo pedir, a criança acaba escolhendo só o que é prazeroso e bom, o que traz satisfação imediata, e os pais avalizam tais condutas. Uma coisa é o filho escolher o filme do fim de semana, outra é escolher o horário de chegar em casa, o valor da mesada, quando arrumar o quarto ou estudar para a prova. Vejo pais que querem ser bons e, por isso, deixam os filhos escolherem o que ainda não podem.

Para escolher devemos ter uma experiência prévia, analisarmos os prós e os contras e não apenas o que nos dá prazer. Os pais confundem direitos com privilégios; ou seja, é um direito do filho estudar, se alimentar e morar, mas não é um direito ter um celular de última geração ou uma viagem com os amigos, sem que eles os conheçam.

Privilégios podem ser suspensos ou retirados, mas os direitos não. Filhos que confundem privilégios com direitos acham que os pais são lacaios e serviçais. “Não quero nem saber, você tem que me dar o celular tal”, “Eu não pedi para nascer”... Você já deve ter ouvido isto.

É claro que o sujeito tem que exercitar o direito da escolha para ser um adulto com condições emocionais sadias no futuro. Indivíduos que foram tolhidos em exercitar escolhas são arredios e temerosos diante de decisões cruciais na vida, são invadidos por ansiedade e calafrios emocionais tremendos, mas isso não quer dizer que os pais não possam mandar, ordenar, intervir, exercer o limite e ter autoridade.

Acredito que o bom educador é aquele que prepara o sujeito para ter responsabilidade nas suas escolhas, mesmo que, em alguns momentos, imponha suas crenças, valores e diretrizes.

O bom educador é aquele que possuem a capacidade de direcionar de forma saudável a vida emocional da criança guiando-a para compreender as consequências lógicas quando uma regra é quebrada, uma vez que algumas regras na vida são inegociáveis, tais como: a civilidade, a cortesia, a educação e a capacidade de respeitar o direito do outro. E aí fica a sugestão, quem sabe você não está pedindo enquanto deveria mandar e mandando quando a ocasião exige que você peça da forma bem tradicional: POR FAVOR!!



Marcos Bersam

Psicólogo Clínico

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