terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

FUGA DO RELACIONAMENTO

PRISIONEIRA DO TELEFONE.

Ah! Não faz muito tempo você queria aquele celular que havia sido lançado há pouco. Na época você ficou apreensiva se pagava um valor tão alto por um telefone. De repente, convenceu a si mesma que merecia. Fez um acordo velado com sua consciência de que seria o presente de natal antecipado.

Finalmente, quando conseguiu carregar pela primeira vez o aparelho ficou encantada com tantos recursos. Mesmo tendo dispensado a leitura do manual sabia que ele era veloz, potente e tinha tantos recursos que somente iria descobrir aos poucos. Afinal, aquele aparelho não era apenas um simples telefone, ou seja, você queria se surpreender com ele.

Assim sendo, aquietou-se um pouco nas primeiras semanas, pois sabia que havia uma expectativa adormecida em suas mãos. Junto com toda essa excitação da compra, seu casamento não andava muito bem, ou seja, não era de se estranhar que você tivesse usado o seu telefone como janela para fugir de sua casa mental.

O celular era seu companheiro inseparável, na verdade ele era também o antídoto para a rotina que tinha acampado em sua vida conjugal. Aquele aparelho provocava em você um frenesi que há muito tempo não sentia. Em qualquer oportunidade você esquecia o exterior e mergulhava com aquele apetrecho eletrônico em outra dimensão.

A dúvida de que poderia existir um lugar perfeito fez você comprar passagem só de ida para o paraíso.

As funções daquele celular eram incríveis, no entanto, nos últimos tempo ele também funcionou como elevador para o inferno. Sem imaginar você subestimou a capacidade daquele telefone permitir um envolvimento com outra pessoa.

Num primeiro momento parecia ser interessante, fez você fugir para longe da realidade. Nos últimos tempos, você está refém de uma intimidade imaginária, longe da realidade as fantasias sugerem um mundo de faz de conta perfeito.

A perspectiva do ideal abraça você de uma forma covarde, sem ter como sair e impotente no desejo insano. Usar o aparelho faz você ficar com asas para sair da rotina entediante.

A culpa não tem seu número, porém, consegue ligar para sua consciência e dizer:

-Pare! Ainda há tempo.

O celular não foi o culpado, em tese, você vivia já uma situação difícil na relação. O celular apenas pavimentou o caminho, fez crescer asas em suas fantasias e acorrentou seu desejo na certeza de que alguém sempre estaria disponível pra você do outro lado. A fantasia nunca teve tanta possibilidade de crescer dentro de você, a ilusão aparecia em formas de mensagens.

O telefone era a máquina do tempo para carregar você para longe do aqui e agora, ou seja, o presente não era importante. O celular era um atalho para longe de si mesma e da vida que você dispunha.

Na verdade aquela pessoa que você acreditou estar envolvida não era nada mais do que uma distração para você não estar em contato consigo mesma.

O celular era realmente incrível, pois conseguiu ser pra você a escotilha de fuga de sua vida conjugal, como também o elevador que te levava para as labaredas infernais da culpa.

Marcos Bersam
Psicólogo

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