segunda-feira, 23 de maio de 2011

MANGA COM LEITE FAZ MAL



Parecia que foi ontem, quando ainda criança sempre ouvia os conselhos que encastoavam em minha mente; ora dito por familiares ora por coleguinhas. Na verdade parecia que tais conselhos dispunham de algo mágico; questionar não fazia sentido. Então lá vinham aquelas coisas “chinelos virados podem trazer maus agouros”; “manga com leite faz mal”, “homem não chora”. E começa aí as primeiras crenças. Quando falamos de crenças muitas vezes não lembramos que fomos afetados por elas; alguns pacientes no consultório apresentam sintomas que muitas vezes foram alimentados por crenças. E essas acabam gerando indivíduos que deturpam suas cognições e desenvolvem comportamentos inadequados. Vou explicar melhor é muito comum a mulher ter a seguinte crença: “se eu não casar não serei feliz” isso faz com que ela sempre busque relacionamentos que muitas vezes tornam-se torturantes ou tente manter um casamento infeliz; pois sua crença ratifica sua conduta. Quando ela passa a questionar é possível vislumbrar uma possibilidade de fazer diferente. Então podemos dizer que as crenças podem nos aprisionar em uma neurose. Outra crença muito comum “tenho que ser perfeito para ser amado” ou “ tenho que sempre dizer sim para não ser rejeitado”; outra é “ amar é se anular”. Alguns até hoje acreditam que “ é errando que se aprende”; na verdade ninguém aprende errando; nós aprendemos quando somos corrigidos. Então somos assim bombardeados por essas tolices cognitivas coletivas. Muitas vezes são os aparatos da sociedade que são encarregados de incentivar e fomentar essas crenças. Ora a família, ora a igreja; ora a escola. Tenho muito adolescentes que me procuram muito ansiosos para prestarem vestibulares e os mesmo tem temores infundados e aumentados de qualquer situação de teste; o vestibular é o ponto alto de ansiedade. A crença desses jovens foi a seguinte “você tem que se formar para ser alguém na vida”; outra mentira e crença neurotizante; ou seja a formação não é condição para você ser alguém; a formatura não é chancela para a felicidade. Você para ser não precisa de um diploma; só que essa crença cria nos jovens incautos que a reprovação num vestibular será algo apocalíptico; com contorno de calamidade existencial. Uma outra crença difundida É “jovem feliz faz uso de álcool”; “fique linda e magra”,” não fique sozinho”; “não envelheça"; "tenha filhos para eles cuidarem de vocês no futuro"; “ evite a tristeza”; “fuja da morte”. Na verdade é muito comum as crenças terem uma lógica num primeiro momento que parece alicerçar sua existência; afinal questionar uma crença não é fácil. De modo geral questionamos quando estamos falidos emocionalmente ou quando estamos em terapia. É importante lembrarmos que quando o desespero suicida é concretizado; este foi fomentado com uma crença; logo essa certeza gera um sensação de desesperança intensa; o suicida de hoje é morto muitas vezes pelas crenças dos que o amavam. A profilaxia do suicídio talvez fosse adubar a dúvida; pois quando a dúvida ainda a esperança. A morte só é saída quando a convicção nos asfixia. Então nunca é tarde para colocar em xeque verdades; crenças de outrora. Questionar as crenças muitas vezes representa destituir os ídolos do passado; desmistificar aqueles que ainda amamos muito. Então amigo leitor, somos guiados pelas crenças arraigadas que desconhecemos. Então não somos tão livres como acreditamos; mas podemos rever e refletir um pouco mais sobre nossos pensamentos e comportamentos e não teremos muitas dificuldades em perceber que sempre há um amarra inesperada que nos conduz ao calabouço dos tormentos e aflições cotidianos muitas vezes tendo nossa anuência inconsciente.
Dr.marcos Bersam

Um comentário:

  1. Interessante,como meus medos me acompanham ate hoje, se tormaram meus amigos mais fieis.

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